outubro 11, 2007

só meu.

Estar com ele é como boiar no mar: a tranquilidade é impagável. Não menos que a excitação da possível aproximação de intempéries. Nem tão domingo ensolarado no campo nem tão trânsito das seis. Tenho cafuné, carinho, companhia no caminho —seja até a praça, seja até o fim da vida. Ele me irrita com suas idiossincrasias que não faço muita questão de contemporizar; minha vontade de compreender o que me parece estupidez vem diminuindo consideravelmente com a idade. Ele me acalma com o abraço sólido, presente, cápsula morna que mantém distante dos perigos do mundo. Sozinha, tenho sono à tarde sem compromissos cancelados à força nem neuras em estar deixando o relógio correr. Coloco os cds em caixas trocadas, assisto seriado após seriado no meu canal predileto, não falo com ninguém se não quiser. Se quiser, ligo. Entregue a minha companhia, possuo o domínio do meu tempo e sofro ou me alegro sem testemunhas, sem perguntas, com calma. Sei que estou comparando o azul do mediterrâneo com o bege do Saara, mas nada me convence que conseguirei manter o melhor dos dois e não acabar tendo o pior de ambos: a opressão da presença alheia intermitente e a desolação do meu vôo solo. Alguém precisa me ensinar a dosar: minhas medidas estão todas fora do padrão.

(Ailin Aleixo)

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